Carolina Pessoni
Goiânia - A Churrascaria do Walmor é mais do que apenas um restaurante em Goiânia. É vista por muitos como um verdadeiro patrimônio da cidade. Localizada no Setor Oeste, região central, a churrascaria se tornou um ponto de referência não só para quem busca um delicioso almoço de confraternização, mas também para quem simplesmente quer dar uma dica gastronômica de qualidade. Os goianienses sempre associam a Churrascaria do Walmor à tradição e qualidade.
Fundada por Walmor Oderdenge e Marli Lorenzetti Oderdenge, um casal catarinense que chegou a Goiás em busca de melhores condições de vida, a churrascaria começou como um pequeno negócio familiar. Com quatro filhos e recursos limitados, o casal decidiu investir naquilo que sabia fazer melhor: churrasco e culinária. "Meu sogro era um churrasqueiro excepcional, vindo de uma colônia alemã, e minha sogra, de origem italiana, era uma excelente cozinheira. Eles uniram suas habilidades e montaram o restaurante", relembra Cláudia Luciany de Sá Oderdenge, nora dos fundadores e atual gestora do negócio.
Walmor Oderdenge e Marli Lorenzetti Oderdenge vieram de Santa Catarina para Goiânia e montaram uma churrascaria (Foto: Arquivo pessoal)
Antes de se estabelecer na Rua 3, onde está há mais de 40 anos, a churrascaria teve vários endereços. Inicialmente, funcionou no Posto Boa Viagem, na Avenida Anhanguera, próximo à BR-153. Mais tarde, se mudou para Anápolis, mas logo voltou para Goiânia, instalando-se no Posto da Brahma, na Vila Nova, e posteriormente na Praça Tamandaré, até chegar ao local atual.
Um dos momentos marcantes da história do restaurante foi a criação da Churrascaria Recantão, na saída para Nerópolis, que se destacava pelo ambiente rústico, repleto de animais e uma vasta área verde. "Muitos clientes ainda se lembram da Recantão, especialmente pelo sorvete servido à vontade", conta Cláudia.
Walmor estava sempre vestido como um gaúcho tradicional nas churrascarias (Foto: Arquivo pessoal)
Assumindo diversas funções e sem condição financeira de contratar muitos colaboradores, Walmor resolveu não servir apenas um espeto de carne com acompanhamentos, como era o usual na época. Ao invés disso, como era o responsável por assar, servir e atender no salão, resolveu passar a oferecer vários cortes de carnes para os clientes.
"Ele pensou nisso pela praticidade: enquanto um espeto era servido, outro estava assando. Embora não tenhamos registros formais, ele é considerado o criador do sistema de rodízio no Brasil", orgulha-se Cláudia.
Em 1983, a churrascaria se fixou no endereço atual, na Rua 3. Dos cinco filhos do empresário - um deles nascido em Goiânia - três passaram a auxiliar o pai a gerir o negócio que se firmou como um dos mais tradicionais de Goiânia.
Sempre trajado como um gaúcho, com bombacha, lenço e chapéu, Walmor fez do seu ganha-pão a sua vida, como rememora Cláudia. "Ele era muito ativo, dizia que não tinha clientes, só amigos. Quando abrimos um restaurante por quilo, ele gostava de ficar na balança, pois era o momento de interagir e conversar com a clientela"
A neta Mayene de Sá Oderdenge se lembra do avô com a vitalidade que impôs ritmo a todos os filhos no trabalho. "Ele cuidava da churrascaria com muito amor. Não tinha doença, nada que fazia com que ele ficasse em casa. Não conhecia a palavra 'folga' e colocou todos os filhos do mesmo jeito, com o mesmo compromisso de cuidar do negócio", conta.
Em 16 de outubro de 2011, aos 72 anos, Walmor faleceu vítima de uma parada cardíaca. "Ele trabalhou até um dia antes de se internar para a cirurgia. A vida dele era isso aqui, não deixava por nada", recorda Cláudia, saudosa.
Quadro no salão da churrascaria homenageia os fundadores Marli e Walmor (Foto: Rodrigo Obeid/A Redação)
Os três filhos, que já auxiliavam o pai na gestão da churrascaria, ficaram à frente do negócio. Entretanto, nos dez anos seguintes, todos - além da filha que não era ligada ao empreendimento - também faleceram. "Um dos filhos já tinha morrido jovem, muitos anos antes. Depois que o seu Walmor morreu, os filhos foram falecendo também e de toda a família inicial ficou apenas dona Marli", conta Cláudia.
O filho que por mais tempo cuidou da churrascaria foi João Sandro Oderdenge, marido de Cláudia e pai de Mayene. Em uma triste coincidência, Sandro, como era conhecido, morreu exatamente dez anos depois do pai, em 16 de outubro de 2021, também vítima de parada cardíaca.
Foi preciso, então, que esposa e filhas assumissem o negócio iniciado pelo patriarca da família. "Eu já trabalhava na churrascaria desde os meus 19 anos, então tinha uma boa noção de como funcionava. Minha mãe também passou a vida toda auxiliando, seja no caixa, no escritório ou mesmo no salão. Então, assumimos o negócio com muita honra", diz Mayene.
Atualmente Tayrine, Mayene e Cláudia estão à frente da Churrascaria do Walmor (Foto: Rodrigo Obeid/A Redação)
Atualmente Cláudia e as filhas Mayene e Tayrine são as responsáveis pela churrascaria. "Meu avô falava que era um ambiente muito masculino, mais frequentado por homens. E meu pai falou para eu estudar para não trabalhar em churrascaria. Pois agora estamos três mulheres à frente de tudo", diz a neta, em meio a risadas.
Mayene se considera privilegiada por fazer parte da terceira geração da churrascaria que transformou o rodízio de carnes em tradição na cidade. "É uma responsabilidade estar na sucessão de um negócio com tanto tempo. Cuidamos de tudo com muito zelo e muito amor", ressalta.
Além de clientes fiéis, que adotaram a churrascaria para fazer parte de memórias afetivas importantes - como aniversário, casamentos e diversas celebrações -, os colaboradores também são leais. "Temos funcionários que trabalham aqui há mais de 40 anos. Somos uma empresa mais que vencedora no sentido de ser familiar, não só por ter sido gerida por pais e filhos, mas porque toda a equipe se tornou uma grande família", emociona-se Cláudia.
Para Mayene, manter o legado da família é uma grande responsabilidade. "É um papel desafiador. Não é fácil, mas é muito gratificante." Já Cláudia diz conseguir lidar com a gestão do negócio com mais facilidade. "Sempre gostei muito de gente, de atender as pessoas. É cansativo, mas flui naturalmente e é muito bom. É uma tradição que vale muito a pena", arremata.