"O sentido está nas palavras. A prática curatorial, especialmente o que fazemos aqui na Bienal, é pensar o espaço e, por meio de poucas palavras, tentar transmitir narrativas e preocupações maiores do mundo, sempre com a ajuda das obras que temos à disposição".
O curador geral da 36ª Bienal, Bonaventure Ndikung, em entrevista para Arte que Acontece, descreve a poética do tema da mostra internacional e disserta a urgência de negociações entre as assimetrias de linguagens, expressões e territórios para a convergência entre um ponto comum aos valores humanos: a espiritualidade.
Não vou negar que torci o nariz, ano passado, quando li nos noticiários e, passei o olho sob a equipe curatorial, principalmente depois da escolha dos versos de uma escritora negra. Aqui, comigo, já entendi que era um recado para as minorias e aquela fórmula batida de se fazer política.
Mas lendo a entrevista de Ndikung percebo uma clareza, um tom ameno, uma proposta realmente de negociação, visto que, pelas imagens que vêm sendo divulgadas nas mídias sociais, há um nítido cuidado pelo esteticamente correto e um tom coerente na dialética do curador.
Boa ventura poderia ser considerado uma polissemia, que também significa boa sorte, ou um substantivo próprio e sobrenome de uma pessoa. Boa fortuna, bom destino, acaso, que casa com o tema reflexivo e tolerante da mostra nos revela um inconsciente coletivo claramente expressado nos resgates ancestrais e em nossa relação com a natureza.
O ofício de um curador e seu discurso sobre "narrativas e preocupações maiores do mundo" é uma responsabilidade árdua, por isso, de extrema importância, devendo ser imparcial e justo. As obras à disposição para que o argumento visual estabeleça uma síntese entre a tese e a antítese são fundamentais. Uma mostra de arte é um poema visual, um relato de palavras desenhadas para demonstrar os assuntos urgentes e uma tomada de consciência imediata.
"Eu acredito que fazer uma exposição é um gesto poético". Bonaventure Ndikung
Eu também!
"Giro", por Luana Vitra, integrante da 35ª Bienal, na Galeria Marcenaria, no Instituto Inhotim, maio/2025 (Fotos: Laura Macedo)